Jorge Almeida é um dos magníficos, atentos e críticos leitores que fazem parte da Comunidade de Leitores da Culturgest. As suas intervenções e respectivas notas são dignas de registo. Aqui fica uma recomendação que me parece muito pertinente. É indispensável estarmos bem informados.
OBRIGADA JORGE ALMEIDA
After-Shock por Robert B. Reich
Nas últimas três décadas a economia americana tem vindo a expandir-se a bom ritmo. Mas os benefícios desse crescimento foram praticamente todos apropriados pelos 10% dos americanos que estão no topo. O salário mediano estagnou durante este longo período.
E no entanto o consumo aumentou fortemente. A parte de leão do consumo foi feita pelos mais ricos – os 10% do topo consumiram mais de 40% do total do consumo!!
A classe média contudo também aumentou o seu consumo. E como o fizeram se o seu rendimento ficou estagnado? Recorrendo a três mecanismos de compensação. A entrada das mulheres no mercado de trabalho adicionou mais um ordenado aos rendimentos do casal e o recurso a mais horas de trabalho.
Quando os estes dois mecanismos se esgotaram (a maioria das mulheres já trabalha e já não é possível aos americanos trabalhar mais horas) a classe média recorreu ao crédito, dando como garantia as suas casas. Enquanto durou a bolha imobiliária foi possível obter empréstimos cada vez maiores com base na mesma casa que continuamente se valorizava e permitia ao proprietário aumentar o seu empréstimo. Com o rebentar da crise do crédito imobiliário (crise do subprime) este mecanismo de compensação também se esgotou.
Reich argumenta então que na ausência de possibilidade de consumo da classe média (que define como os 40% da população para cima e para baixo do rendimento mediano) a economia não pode recuperar. Como resolver então esta crise?
A resposta é simples e evidente. Redistribuir a riqueza entre os que mais têm e os outros. Assim advoga uma reforma do imposto sobre o rendimento (todo o rendimento, independentemente da sua fonte seria taxado à mesma taxa) que colecte os mais ricos e distribua dinheiro à classe média. Advoga também a introdução de um cheque escola regressivo (tanto maior quanto menor o rendimento da família) que permitisse aos americanos mais pobres colocar os filhos nas melhores escolas. Lista ainda outras medidas de redistribuição activa.
Reich defende que uma maior distribuição do rendimento seria benéfica quer para a classe média quer para os ricos, porque colocaria a economia numa rota de crescimento sustentado que a todos beneficiaria.
Por outro lado, identifica o risco de a indignação dos americanos da classe média cada vez mais empobrecidos num país cada vez mais rico, se materializar na eleição de radicais de direita para o Congresso e mesmo para a Presidência. Isso seria, na sua opinião, catastrófico. Uma redistribuição reporia a justiça social e o daria corpo ao famoso “sonho americano”.
Reich relembra que antes da grande depressão os Estados Unidos também tiveram uma distribuição de rendimento tão desigual como a actual e que esta foi uma das causas da crise (os americanos não podiam, por falta de recursos, consumir os bens produzidos e a economia parou). Por outro lado quando a distribuição de rendimento foi mais equilibrada, como no período que se seguiu à II Guerra Mundial, a economia cresceu a ritmos fortes no que foi conhecido como os Trinta anos gloriosos.
Excelente livro. Devia ser bem divulgado.
Robert B. Reich foi secretário do trabalho na administração Clinton e é professor na Universidade da Califórnia.