A LER SEM DEMORA
Primeiro foi “
O Gato de Upsala” que me apanhou de surpresa e me prendeu à escrita de Cristina Carvalho. Depois, conhecemo-nos – nestas rondas de afinidades electivas da escrita e da leitura – e depois foram os seus outros livros, a sua atitude apaixonada e intensa em relação à vida, à arte e à literatura, os seus risos e boa disposição aliados a uma quase timidez e discrição, um saber estar sem pose, sem artifícios. Uma mulher total, pensei eu.
E, depois, chegou este
“Nocturno”, um livro único, à margem dos modismos da Literatura Portuguesa actual, com um trabalho esforçado de pesquisa e uma linguagem solta, dinâmica, vibrante e encantatória. É impossível parar de ler esta biografia ficcionada do romântico Fryderyk Chopin, cuja curta vida foi plena de som e de fúria mas não sem significado. Amante e boémio, complexo e delicado, apaixonado e apaixonante, intenso e frágil, Chopin representa uma época e uma forma de estar que parece distante da nossa mas que continua a intrigar-nos e a seduzir-nos. Ele viveu um tempo de grandes convulsões, quando a morte e a vida dançavam a mesma feroz melodia e em que o ser humano comungava estreitamente com a Natureza, encontrando nela – e no Amor – um profundo encanto e uma razão para o absurdo da existência. Frédéric, Fryc fez mais do que viver intensamente. Transpôs para a sua música toda a energia, Beleza, sentimento e Transcendência que, haja o que houver, será sempre tudo aquilo que nós, homens e mulheres, almejamos no mais íntimo do nosso corpo e do nosso espírito. Cristina Carvalho, em “Nocturno” devolve-nos esse desejo e coloca perante o nosso olhar o espelho das nossas dúvidas e ansiedades.
“Nocturno” é um romance de uma vida. De uma vida romântica, na verdadeira assumpção do termo. Escrito por uma mulher que vive romanticamente.
Com a música, sempre a música, a tocar.
Nota : não confundir “romântico” com “sentimental”. Cristina Carvalho nunca é sentimental. E escreve como se respirasse. Com uma cadência perfeita. Com prazer.
“Nocturno”, Cristina Carvalho, Ed. Sextante, Lisboa, Novembro, 2009