Hoje, na Culturgest, Lisboa, última sessão desta Comunidade de Leitores dedicada ao tema do "medo". Vamos discutir, de Henry James, "A Volta do Parafuso" , um conto de arrepiar que Oscar Wilde classificou da seguinte forma: "é um conto maravilhoso, terrível e venenoso”. Será um "conto de fadas", uma história de fantasmas ou um estudo da histeria (feminina, claro!)? Até agora nem mesmo Edmund Wilson, o grande crítico americano,conseguiu dar uma resposta clara. Aliás, James - que acompanhava os estudos de psicologia do seu irmão William James - tratou de criar uma "opacidade" absoluta, deixando o leitor no escuro... e às voltas com os seus próprios fantasmas.”
A história é contada por alguém que a ouviu de uma jovem governanta que é contratada para tomar conta de duas crianças numa recôndita casa de campo. Aí, ela começa a "ver" os fantasmas de um antigo criado , Peter Quint e da anterior preceptora, Miss Jessel - mortos em circunstâncias suspeitas - e fica aterrorizada com a hipótese de eles terem "voltado" para se apoderarem das duas encantadoras, belas e misteriosas crianças, Flora e Miles.
Só ela é que avista os fantasmas - nunca há uma confirmação de outras pessoas - e é por isso que a grande questão se coloca: existirão mesmo almas do outro mundo ou será tudo produto de uma mente perturbada fruto de uma sexualidade reprimida - neste caso, a da governanta?
A mestria com que James conta a história provoca grandes dúvidas nos leitores que, tal como eu, vasculham o texto à procura de indícios.
"A Volta do Parafuso" será um conto da literatura "gótica" - há uma referência no texto a "Os Mistérios de Udolpho" de Ann Radcliffe - ou uma crítica a essa mesma literatura? A relação com "Jane Eyre" de Charlotte Brontë é óbvia. Mas "esta" governanta não tem a fortaleza de espírito de Jane Eyre. Uma coisa é certa: o sexo é um assunto latente. Miss Jessel e Peter Quint (este último ainda mais estigmatizado por ser de uma classe inferior) são "demoníacos" porque mantiveram uma relação "ilícita". E o que dizer do segredo que envolve a expulsão de Miles - o menino da casa - do colégio onde se encontrava? Não há respostas e as questões são deixadas em aberto pelo autor que prega partidas sobre partidas ao leitor, empurrando-o cada vez mais para um labirinto sem saída.