Dia de Comunidade de Leitores, dia de David Lodge e de "A Vida em Surdina", ainda no âmbito do ciclo dedicado ao "medo".
Um professor aposentado, surdo e a braços com a sua crescente incapacidade; a mulher, rejuvenescida e activa; a discípula provocante e perturbada; o pai viúvo, solitário, a perder o juízo: os filhos a viverem as suas vidas. Se nos dois primeiros livros que lemos, "A Insígnia Vermelha da Coragem" de Stephen Crane e "O Deus das Moscas" de William Golding, analisámos acontecimentos em situações "excepcionais" – guerra, desastres – agora estamos em território "normal", até mesmo banal, inerente à vida de todos nós. O que David Lodge faz, com a sua incomparável mestria, é retomar os grandes temas da tragédia e da comédia clássicos e juntá-los numa mesma obra. A frase-chave de "A Vida em Surdina", que em inglês se chama "Deaf Sentence" , uma ambiguidade (deaf-surdo/dead-morto) impossível de traduzir à letra, é a seguinte: " a cegueira é trágica, a surdez é cómica".
É claro que todos somos cegos e surdos a qualquer coisa ou em relação a alguém, a cada instante. No livro existem muitas evidências deste fenómeno. Por isso, a nossa vida é tão complicada, por isso é que os nossos medos se avolumam. E será sobre isto tudo que iremos conversar, hoje, a partir das 18:30 na Culturgest, em Lisboa.