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Penso muito em Nelson Mandela. É uma injustiça nada poética que um verdadeiro guerreiro, um príncipe Thembu, um Madiba, esteja agora, no fim da vida, novamente preso. Preso, não num lugar com paredes e arame farpado, onde lutou, pensou, reagiu, liderou e de onde conseguiu libertar-se, mas encarcerado, isso sim, no seu próprio corpo indefeso. É claro que no momento em que o deixarem partir, um coro de boas e caridosas vozes, em todo o mundo, se levantará, citando milhares das suas frases – algumas nem serão dele, como sempre acontece – mas poucos seguirão o seu exemplo: ser valente, resistir, lutar, manter a dignidade, defender intransigentemente ideais mesmo que sejam difíceis de concretizar. E saber conviver com a imutável querela humana, dando o exemplo e apaziguando os extremistas.
Recordo que Mandela esteve preso em Robben Island – sujeito a trabalhos forçados e em condições terríveis – entre 1962 e 1982. Foi transferido para a Pollsmoor Prison em Tokay, Cape Town, onde permaneceu mais seis anos. Na sequência de uma tuberculose foi transferido, em Dezembro de 1988, para a Victor Vester Prison, perto de Paarl e finalmente libertado em 1990.
Gandhi, Mandela, Martin Luther King e Obama têm sido os políticos, os activistas que mais me ajudam a viver – curiosamente, são todos homens, nenhum deles é branco ou europeu, o que, para mim, quer dizer muito.
Felizmente, que nenhum deles foi (é) um santo imaculado.Há quem exija que homens e mulheres, cujas vidas são exaltantes e inspiradoras, sejam também obrigados a não errar nunca, o que é impossível. Quem pensa que tal acontece ou é ingénuo ou fanático. Gandhi conseguiu acabar com a ocupação inglesa mas não uniu os indianos nem remediou as desigualdades no seu País; Nelson Mandela acabou com o apartheid mas não com a violência na África do Sul nem com desigualdades tão gritantes como as da Índia. Martin Luther King foi uma figura decisiva na luta pelos direitos civis nos Estados Unidos da América mas não era um ser sem defeitos. ( Gandhi e King foram assassinados, lembram-se?) E Obama é claro que não transformou os EUA num paraíso. Mas quem tem o descaramento de lançar a primeira pedra?
Gandhi, Mandela, King, Obama lutaram muito para chegar onde chegaram, contra todas as hipóteses, que o seu tempo e as condições sociais e políticas respectivas impunham, sem aparente possibilidade de mudança. Penso muitas vezes nestas pessoas que conseguiram o impossível. Nós, por cá, nem conseguimos o "possível"!